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Terraverde

 

Desde muito jovens já nos sentíamos atraídos pelos espaços naturais, amplos e ricos, fascinantes à nossa sede de sensações, percepções, experiências. Esta atração se consolidou durante a juventude.

Depois que nos encontramos, permanecemos habitando lugares em que pudéssemos cultivar este elo inspirador com a terra, com o céu, com nossa existência. A arte, o artesanato e o comércio foram brotando como trilhas naturais, que nos possibilitavam expressão e liberdade de viver nossas escolhas.

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Este caminho nos levou a viver muitos anos no Parque Nacional do Itatiaia. Foi o local exuberante, pleno e belo que coroou nosso encontro com a vida selvagem, conosco mesmos – como pessoas, casal e seres naturais – e com as muitas faces do conhecimento da Vida, através de encontros e caminhadas com cientistas, pesquisadores, observadores de aves e amantes do mundo natural.

As trilhas acidentadas, as cachoeiras do rio Campo Belo, a vida silvestre, sonora e movimentada, e especialmente a onipresença da estonteante mata atlântica, aquela floresta venerável, fecunda e diversificada, tudo aquilo nos encantou e nutriu durante anos, e fez desabrochar nossa devoção. Instintivamente começamos a construir a oportunidade de atuar, de doar esforços, de compensar com nossa atenção e trabalho tudo o que pudéssemos, a favor desta nave-mãe que nos suporta.

Ao escolhermos Santo Antônio do Pinhal para fincarmos raízes, decidimos fincar raízes literalmente. Adquirimos alguns alqueires maltratados de terra, explorados durante um período considerável por agricultura abusiva e criadouros de animais em cativeiro. A exploração deixou marcas, rastros e resíduos feios, nocivos, como tantos que nossa espécie vem insistente e inconsequentemente espalhando planeta afora. A vergonha pelo antropocentrismo predador que nossa civilização forjou e a consciência de que nossa presença humana aqui, no seio da Natureza em desdobramento, junto a miríades de espécies e modos de existir, pode ter outra feição e outras formas de relacionamento – desembocaram na decisão de fazermos o que estivesse ao nosso alcance para zelar por esta terra, protegê-la e aos seus seres, fauna e flora, para que de certa maneira a natureza pudesse voltar à natureza.

Pesquisamos e perseguimos mudas variadas, especialmente nativas, entre elas frutas, árvores do leque mais amplo, e flores, para propiciar e acelerar ligeiramente a ação da própria reconstituição natural, que é o que acontece quando se retiram as pressões de exploração de uma área, e se permite que a natureza opere segundo suas leis.

Na maior parte da terra, onde desde alguns anos a mata decididamente já se recompunha por si própria, nossa diretriz foi não interferir, reservando o trabalho de plantio e reconstituição vegetal para os trechos que haviam sido extensivamente abusados. As nascentes que formam o lago, que se derrama num riacho, que acolherá outros e formará o Córrego do Machadinho - guardar essas nascentes fluindo sossegadas em sua magia úmida...

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Muito tempo e trabalho foram dedicados a plantar e cuidar dos rebentos jovens, que durante anos demandam atenção e medidas, protegendo-os enquanto cresciam e se desenvolviam, possibilitando que as forças naturais atuassem, e paralelamente tratando do solo, estendendo e alimentando a cobertura vegetal, despejando nutrientes para enriquecimento das camadas de terra.

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E assim se passaram anos. Através da loja na cidade, alcançávamos recursos para a continuação de nossa arte e desta que se transformou em nossa pequena epopeia.

Hoje já não são visíveis as marcas de maus-tratos. A vegetação cresceu e se multiplicou, assim como as formas de vida, visíveis e invisíveis, animais, aves, insetos, fungos, seres subterrâneos, microscópicos, formando um manto espesso, luxuriante e encantador, que nos inspira, nutre, emociona, plenifica e justifica. Agora já somos mais cuidados do que cuidadores. Zelamos para que a vida alegre, que flui e se movimenta no solo, no ar e na água, seja preservada de perturbações, que se fortaleça e irradie.

Resgatar nosso sagrado senso de pertencimento, de participantes numa gloriosa orquestra, na incessante música cósmica que se desdobra pelo Universo, isto é o que nos moveu, move e comove.

É fundamental que alcemos nossos olhos às estrelas, aspiremos os infinitos perfumes naturais, mergulhemos no divino elixir de vida, a água, nos sensibilizemos com a Existência em suas incontáveis maneiras de habitar a matéria, e nos irmanemos com estas catedrais orgânicas que são as árvores e florestas, os ambientes primordiais, a complexa e pulsante rede da vida...

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